Intima Loucura

Ó mundo, deixa-te entender um pouco

– Herberto Helder

O mano lambe o prato
Estalos de pesto lhe inebriam as papilas
Estranhezas me circundam
Quem se enrouquece a defender o que não acredita
Quem acredita que Deus salvará a despeito do aviso
Quem lambe
Quem morre
Eu, tudo isso
E lá vai meu mano a lamber o pesto, roer os ossos
Feito um morto de fome
Cada um, cada maneira
Eu na íntima loucura que é a poesia
A chamada de Bela
Por isso menos insensato, menos estranho
Belo: se coroa de persistência
Pois o tempo a justifica, a lustra
Honroso era caçar bruxas até algum dia atrás
– Na linha do absoluto perderemos o hábito
Em miúdos da história, considerarão tão místicos quanto
E meu mano, e o prato
Eu, lambendo a lírica
Roendo as teclas, a distrair-me do mundo
Verso aqui, letra acolá
Caveiras a rir de mim
Das demais insânias
Cada um: seus placebos