Nosso Fardo
Se não há deus obriga-se a barganhar logo a vida por outra paixão
Tão inexplicável quanto, tão indizível como
Sim, só através da cálida ilusão, das mãos em concha
Os joelhos rastejando em qualquer tipo de ventura
Há de se continuar, de se expurgar, devidamente ou não,
O fardo do peso, próprio de si, do todo,
O cosmo é esmagador, pousa sobre quem não se responde
Não atura sua carne incrédula, cinge-o de dúvidas:
Deveras (empurra a todos que o assistem) quer
Que se deem motivo, razão, animo puro animo, fé,
Tolices, ou sentirão a eclosão inútil de cada supernova
Serão engolidos de dentro para fora — tornar-nos-á seus ínfimos
Buracos negros.
portanto iludamo-nos, ludibriamo-nos, persuadimo-nos em
Nossa pequenez, e dizemos — é a empatia! é a liberdade! é a botoeira!
Brilhamos como astros, inventamos nossa própria luz
Somos mais uma delusão espetacular, uma taça de poeira — belíssima
Figuração de cometa, Preludio ou enredo
Corremos todos para o mesmo desfecho
As mãos dadas, decepadas ou forçosamente atadas
Morremos todos da mesma morte, a cega
Eis nossa beleza terrível
Se resplende a singular vida enquanto tudo em volta se acanha
O luar se arrefece, a anatomia corrói, o rastro esvaece
Somos parte, contudo, e sermos parte é toda uma divindade