Nosso Fardo

Luis Spaziani
1 min readNov 8, 2021

Se não há deus obriga-se a barganhar logo a vida por outra paixão

Tão inexplicável quanto, tão indizível como

Sim, só através da cálida ilusão, das mãos em concha

Os joelhos rastejando em qualquer tipo de ventura

Há de se continuar, de se expurgar, devidamente ou não,

O fardo do peso, próprio de si, do todo,

O cosmo é esmagador, pousa sobre quem não se responde

Não atura sua carne incrédula, cinge-o de dúvidas:

Deveras (empurra a todos que o assistem) quer

Que se deem motivo, razão, animo puro animo, fé,

Tolices, ou sentirão a eclosão inútil de cada supernova

Serão engolidos de dentro para fora — tornar-nos-á seus ínfimos

Buracos negros.
portanto iludamo-nos, ludibriamo-nos, persuadimo-nos em

Nossa pequenez, e dizemos — é a empatia! é a liberdade! é a botoeira!

Brilhamos como astros, inventamos nossa própria luz

Somos mais uma delusão espetacular, uma taça de poeira — belíssima

Figuração de cometa, Preludio ou enredo

Corremos todos para o mesmo desfecho

As mãos dadas, decepadas ou forçosamente atadas

Morremos todos da mesma morte, a cega

Eis nossa beleza terrível

Se resplende a singular vida enquanto tudo em volta se acanha

O luar se arrefece, a anatomia corrói, o rastro esvaece

Somos parte, contudo, e sermos parte é toda uma divindade

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Luis Spaziani

Quinhão dum escritor diminuto. Cofundador do coletivo literário Um Tinteiro. Professor de Italiano.