Scabiosa

Luis Spaziani
1 min readApr 17, 2021

Cansa-te, que me canso também
Silencia-te que meu silêncio vai além
Ama-me e do teu amor serei refém
Vai-te agora! Rasga o cordão umbilical
Ou perpetua-me o fado, o manancial
De tais mãos escorrem segredos,
perfumes, dentes afiados, e me servem de abrigo
Tu? Suspende volumes acima
– ardente volúpia ou indiferença absconsa
Escolha; à tua voz condigo
Serei tua lauda de poemas,
ou brancura recorrente
Canela, nódoa de tinta, ponta do peito,
ou pilheira do ausente?
Planta-me, rega-me,
germinarei furores
Canhestro em substância floresço
mas não de lírio, de pétalas silvestres,
rosa.. ai rosas!
Minhas caules espinham, meu vulto: Scabiosa
Por isso venha, se alastre,
orvalhemos a sede
e que a gente baste
Ou me afaste, acanhe!
suma na ilusão dum contraste
Lhe serei toda infeliz expectativa,
lhe serei outono,
janeiro em dia de verão,
lhe serei o amor de uma vida toda,
ou sombra de inominável paixão

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Luis Spaziani

Quinhão dum escritor diminuto. Cofundador do coletivo literário Um Tinteiro. Professor de Italiano.